O “próximo Eddy Merckx”, elogio ou maldição? Muitos ciclistas já foram assim chamados, até hoje nenhum confirmou
Em uma reportagem no cyclingweekly, o jornalista Chris Marshall-Bell debateu o que é simultaneamente o maior elogio e a maior maldição do ciclismo.
Edwig Van Hooydonck foi o primeiro. Depois de vencer o Tour de Flanders, com apenas 22 anos em 1989, o belga implorou à imprensa. “Por favor, não me chame de novo Merckx”, ele gritou.
Vinte e nove anos depois, foi a vez de Remco Evenepoel. Depois de se tornar campeão mundial júnior de Contrarrelógio e pular da categoria júnior, diretamente ao World Tour, o belga foi definitivo.
“Ser descrito como o novo Merckx, não é algo que eu queira ouvir”, disse ele. “Por favor, pare com isso”, escreveu ele mais tarde nas redes sociais. “Ninguém pode ser uma nova versão de algo incomparável. Pare de comparar, por favor”.
Eddy Merckx incomparável
Desde que Eddy Merckx se aposentou em 1978, chegando ao fim de uma carreira incomparável de 525 vitórias, incluindo vitórias em todos os Grand Tours, Monumentos e quase todas as corridas de pista e de estrada em que competiu. No entanto, desde sua aposentadoria o mundo do ciclismo (principalmente a Bélgica) está ansioso para encontrar o sucessor do “Canibal”.
Alfons De Wolf
Um dos homens inicialmente apontados como “o próximo Eddy Merckx” foi o belga Alfons De Wolf, aos 20 anos. Em última análise, era uma pressão com a qual ele não conseguia conviver. “A imprensa começou assim que Eddy se aposentou”, disse De Wolf ao Cycling Weekly. “Todos os jornalistas falavam em encontrar um novo Eddy, mas a pressão era muito alta.”
“Eles ainda estão procurando o próximo Eddy, mas nunca encontrarão um”, continua De Wolf com tristeza. “Assim como nunca encontrarão o próximo Pelé no futebol.”
“A imprensa tentou me pressionar, mas fui inteligente o suficiente para saber que não era tão bom quanto Eddy. Eu poderia fazer algumas boas corridas, dois ou três meses por temporada em alto nível, mas não um ano inteiro. Eu sabia o que podia e o que não podia fazer”, conclui.
“Foi estranho. Eu entrava em uma loja e todos me conheciam. Houve muitos pedidos de patrocinadores e até de algumas pessoas me pedindo para entrar na política, mas nada disso me interessou”.
Frank Vandenbroucke
Em meados da década de 1990, Frank Vandenbroucke entrou em cena. “Com seu talento, Frank é o Cruyff do ciclismo”, disse Merckx, comparando habilmente VDB, como era conhecido, com o jogador de futebol Johan Cruyff, e não com ele mesmo. “Ele poderia ganhar qualquer coisa”, acrescentou Merckx.
Vandenbroucke nunca atingiu os níveis que eram esperados dele, mas imitou a Merckx com sua extravagância. “Precisamos de heróis, de exemplos”, escreveu o jornalista belga Matthias Declercq sobre Vandenbroucke. “Gente que não quebra, gente que nos liberta da mediocridade diária. Pessoas que podem voar, que fazem coisas que não podemos.”
Agora chegou a vez de Tadej Pogacar
O mais recente, ao lado de Evenepoel, é o esloveno Tadej Pogacar, que com somente 25 anos, já venceu 63 corridas, dois Tours de France e três Monumentos
“Já ouvi muitas vezes ‘este é o novo Merckx’ sem que a condição fosse cumprida, mas com Tadej acho que desta vez realmente chegamos lá”, disse o próprio Merckx em 2021, acrescentando que Pogačar “não tem fraquezas e pode fazer melhor do que eu em algumas corridas”, finalizou o verdadeiro e até hoje, único Canibal.