Nuno Ribeiro dá detalhes sobre o esquema de doping na equipe portuguesa W52-FC Porto “sei o quanto errei e peço desculpa a todos”

O ex-diretor desportivo da W52-FC Porto, Nuno Ribeiro, admitiu, nesta segunda-feira, que o uso de doping era uma prática sistemática na equipa, financiada e incentivada pelo proprietário Adriano Quintanilha, descrito como um “mestre da manipulação”.

Em depoimento durante o julgamento da operação Prova Limpa, Ribeiro detalhou o ambiente de pressão e ameaças que envolvia o funcionamento da equipa e assumiu que falhou ao não se opor ao esquema.

Declarações de Ribeiro no julgamento

No tribunal, localizado em Paços de Ferreira, Nuno Ribeiro pediu para prestar depoimento na ausência dos restantes 25 arguidos, incluindo ex-ciclistas da equipa, justificando que vinha sofrendo “pressões e ameaças”, especialmente de Adriano Quintanilha.

Em uma declaração escrita, o vencedor da Volta a Portugal de 2003 negou ser o “cérebro” do esquema de doping, atribuindo esse papel a Quintanilha.

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Nuno Ribeiro

“O meu único erro foi saber o que se passava e não ter tido a capacidade de dizer ‘não’, por depender economicamente do cargo que exercia”, afirmou Ribeiro, acrescentando que nunca exigiu ou forçou ciclistas a usarem substâncias ilícitas.

Apesar disso, admitiu que era procurado por atletas que perguntavam como poderiam “utilizar doping” sem serem detectados.

Funcionamento do esquema de doping

Segundo Ribeiro, o uso de substâncias dopantes era constante ao longo de toda a temporada, financiado diretamente por Adriano Quintanilha. Ele detalhou que os ciclistas recebiam, além dos salários, montantes mensais destinados à compra de substâncias, adquiridas por meios como a internet e farmácias.

Para ocultar esses pagamentos, Quintanilha utilizava “ajudas de custo fictícias”, com justificativas de despesas não realizadas, como almoços e quilometragem.

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Quintanilha (esq.) utilizava “ajudas de custo fictícias”

A defesa de Ribeiro solicitou ao tribunal o levantamento do sigilo bancário de uma conta vinculada à Associação Calvário Várzea Clube de Ciclismo, utilizada, segundo o ex-diretor, para movimentar os fundos destinados ao esquema.

“A generalidade da equipa sabia que havia doping e que quem financiava era o senhor Adriano”, afirmou Ribeiro, reforçando que Quintanilha gastava “milhares de euros” para manter a prática.

Ambiente de intimidação e manipulação

Nuno Ribeiro descreveu o ambiente na W52-FC Porto como “infernal”, marcado por ameaças e humilhações constantes de Quintanilha, que teria usado a sua posição para manipular todos ao seu redor. “O discurso dele era sempre o mesmo: ‘Pago para ganhar e ganho’. Ele sabia de tudo e ameaçava ciclistas para garantir os resultados”, declarou Ribeiro.

O ex-diretor revelou ainda que Quintanilha o abordou três vezes para que assumisse a responsabilidade total pelo esquema, oferecendo 2.000 euros mensais durante dois anos como compensação. Ribeiro recusou todas as propostas, relatando que saía dos encontros “cheio de medo” devido às ameaças e insultos recebidos.

Arrependimento e pedido de desculpas

Em tom emocionado, Nuno Ribeiro admitiu os erros cometidos e pediu desculpas à sociedade, aos ciclistas e às autoridades desportivas. “Não me sinto um criminoso. Fui um fraco por ceder. Devia ter dito ‘não’. Sei o quanto errei e peço desculpa a todos, mas sobretudo aos meus atletas”, concluiu, solicitando ao tribunal que não lhe aplique uma pena de prisão.

As revelações de Ribeiro lançam luz sobre a extensão do esquema de doping na equipa e o papel de Adriano Quintanilha, com quem a justiça continuará a lidar nos próximos passos do julgamento.

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