Jornalista belga discorda do otimismo de Remco Evenepoel “tão bonito porque é na imprensa, a verdade é diferente”
Remco Evenepoel sofreu mais um grave acidente em sua carreira. Desta vez, um choque com uma van da empresa de correios da Bélgica, resultou na hospitalização do capitão da Soudal-Quick-Step. A difícil situação que o Bi Campeão Olímpico enfrenta, reabriu debates sobre as dificuldades enfrentadas pelo jovem atleta.
O especialista em ciclismo da Bélgica, Michel Wuyts, afirma que diferentemente do que Evenepoel procura demonstrar, o Campeão Mundial de Contrarrelógio deve estar passando por momentos delicados e que até poderia se beneficiar, se buscasse conselhos de alguns rivais, que já passaram por situações semelhantes
“O melhor país de ciclismo do mundo continua assombrado”
Michel Wuyts, em sua coluna para o Het Laatste Nieuws, começou refletindo sobre o que chamou de uma espécie de “preço pago” pelo ciclismo belga devido ao seu talento abundante.
“O melhor país de ciclismo do mundo continua sendo assombrado. É como se tivesse que pagar um preço por tanto talento. Parece duro, até derrotista, mas a realidade mostra que não é diferente”, afirmou.
“Fratura pélvica na Il Lombardia (2020), fratura no ombro na Volta ao País Basco (2024), agora três fraturas em Oetingen (referindo-se as fraturas desta semana).”
“Os atletas de elite têm que parecer heróis”
Apesar disso, ele fala da demonstrada resiliência do ciclista, simbolizada por uma foto pós-cirurgia onde Remco surge demonstrando um aparente otimismo.
“Tão otimista. Porque é tão bonito na imprensa. Os atletas modelo devem demonstrar que o espírito está em alta, mesmo em tempos muito sombrios. As pessoas não toleram mais miséria. Os atletas de elite têm que parecer heróis. Mesmo quando acabaram de ser colocados para trás”.
“A verdade, é claro, é diferente”
Embora o otimismo de Evenepoel seja admirável, Wuyts foi cético em relação à narrativa pública. “A verdade, é claro, é diferente. Não estou subestimando, a dor que Evenepoel precisa suportar. Fisicamente e, ainda mais, mentalmente. Cada dia, cada hora, cada cinco minutos. Dúvidas por toda parte. Irritações persistentes. Memórias incômodas. “
Ele também questionou sobre o planejamento e as perspectivas para a temporada. “O primeiro Training Camp da equipe já foi perdido, o segundo em janeiro possivelmente também”.
“Ele conseguirá estar na Paris-Nice? Estará 100% para a Liège-Bastogne-Liège? Dezembro será um mês de caos. Pequenos pedaços de esperança, alguns de desespero”.
“É bom que Remco possa contar com Oumi, pai, mãe, o instituto Lefevere. A estrutura social é a base de toda recuperação bem-sucedida”, destacou Wuyts, salientando a importância da estrutura social que cerca Evenepoel.
“Ele usará vídeos de Tadej Pogacar como motivação”
Apesar de tudo, Wuyts está certo de que Evenepoel retornará com força total. “Há o temperamento excepcional de Remco. Esse impulso incontrolável. Fogo em cada fibra. Eu quero e eu devo. Aquele temperamento me diz que a recuperação vai acontecer mais rápida do que o esperado. Não, nunca desistir”, analisou.
Wuyts também acredita que Evenepoel encontrará inspiração em vídeos de treinos intensos de outros atletas de elite, como Tadej Pogacar. “Assim que diminuírem as lesões, Evenepoel colocará seu corpo para trabalhar. Ele usará vídeos de Tadej Pogacar como gatilhos motivacionais.”
Trocar experiências com Primoz Roglic
Dado que este não é o primeiro desafio enfrentado por Evenepoel, Wuyts sugere que o ciclista belga busque conselhos com outros atletas que também passaram por situações semelhantes. “Trocar experiências com colegas que passaram pelo mesmo sofrimento também pode ser benéfico”.
“Greg van Avermaet, Wout van Aert ou o ultra-experiente Primoz Roglic, e considerar detalhes nas batalhas deles será um estímulo”, concluiu Wuyts.