Especialistas refutam polêmica ideia de Chris Froome e Wout Van Aert “o RPM dos ciclistas seria muito maior”
A ideia de restringir marchas, para melhorar a segurança dos ciclistas no pelotão profissional, foi recentemente sugerida por Wout van Aert (Visma-Lease a Bike) e Chris Froome (Israel-Premier Tech).
Contudo, especialistas em equipamentos de ciclismo como Dan Bigham, chefe de engenharia na Red Bull BORA-Hansgrohe, e Casper Von Folsach, engenheiro de desempenho da Uno-X Mobility manifestaram suas discordâncias ao Cyclingnews, alegando que essas medidas teriam pouco impacto na segurança.
Sugestões de Wout Van Aert e Chris Froome
A discussão iniciou quando Van Aert, em entrevista ao Sporza, sugeriu a limitação de engrenagens. “Limitar as marchas tornaria o esporte muito mais seguro, na minha opinião. Outros ciclistas não pensam assim, mas estou convencido disso.”
Chris Froome vai além, em entrevista ao jornal italiano La Gazzetta dello Sport. “As velocidades necessárias para mover uma coroa de 60 (dentes), podem levar o ciclista a velocidades acima de 80 km/h, com você ainda pedalando”.
“Talvez precisemos colocar um limite nelas. Não estou dizendo marchas da categoria Junior, mas talvez 56 ou 54 precisem ser o limite, para manter as velocidades baixas nas descidas.”
“Limitar as marchas não ajudará a desacelerar as corridas”
Dan Bigham, da Red Bull BORA-Hansgrohe, com vasta experiência em otimização de equipamentos e desempenho, rebateu diretamente as sugestões de Froome e Van Aert.
“A velocidade não é determinada pelas relações de marcha. É determinada pela potência de entrada dividida pela resistência ao ar. Limitar as marchas não ajudará a desacelerar as corridas”, postou Bigham no Instagram.
Bigham sugeriu outra solução interessante: aumentar o limite de peso de 6,8 kg imposto pela UCI para bicicletas.
“Aumentar o limite de peso permitiria a inclusão de sensores adicionais, sistemas de segurança e bicicletas mais robustas. Isso incentivaria o desenvolvimento de bicicletas mais adequadas para o uso em velocidades maiores.”
“O RPM dos ciclistas seria muito maior”
Casper Von Folsach, da norueguesa Uno-X Mobility, também questionou a eficácia da medida.
“Não acho que seja uma maneira eficaz de aumentar a segurança. Suponho que o raciocínio seja reduzir a velocidade, mas mesmo limitando bastante a capacidade dos ciclistas de aplicar potência, isso não mudaria completamente o ciclismo.”
“Acho que eles talvez estejam ignorando alguns fatores, sobre como manter a potência alta enquanto restringe a relação de marchas. Além disso, o RPM dos ciclistas seria, em todos os cenários sem escalada, muito maior, algo que eu acho que também poderia ser discutido.”
Von Folsach ainda destacou que altos níveis de arrasto aerodinâmico, comuns em velocidades acima de 80 km/h, fazem com que a maioria dos ciclistas nessas situações estejam “apenas rolando”. Segundo ele, aumentar o arrasto seria uma abordagem mais efetiva do que limitar marchas.
“Será que a velocidade é a causa dos acidentes?”
Jenco Drost, chefe de equipamentos de desempenho da Visma-Lease a Bike, compartilhou uma abordagem pragmática:
“Reduzir as marchas pode ser uma delas, mas acho que deveríamos começar a analisar/investigar o que é inseguro neste momento”.
“Acho que há muitos fatores que podem resultar em condições de pilotagem inseguras e, sem analisar ou resumir claramente, estamos atirando em branco. A velocidade pode tornar o acidente mais grave, mas a velocidade é a razão do acidente?”, finalizou o dinamarquês.
