“Para mim Lance Armstrong fez algo enorme” campeão do Giro, Ivan Basso revela detalhes inéditos da carreira
Ivan Basso foi um dos grandes ciclistas do início dos anos 2000. O italiano venceu o Giro d’Italia em 2006 e 2010, além de ser vice-campeão do Tour de France 2005, perdendo para Lance Armstrong, que acabou perdendo o título, após a confissão de doping.
No entanto, sua própria reputação foi manchada, quando ele foi implicado no escândalo de doping da Operación Puerto em 2006. Depois de cumprir sua suspensão, ele fez um retorno em 2010, onde venceu o Giro pela 2ª vez.
Aos 47 anos, o italiano concedeu uma entrevista sincera ao jornal Corriere della Sera, onde deu detalhes de alguns momentos importantes da carreira.
Começo em ambiente familiar conturbado e vitória aos 7 anos
Quando questionado sobre sua primeira lembrança, Basso respondeu sem hesitar: “Um triciclo vermelho. Meus pais me deram quando eu tinha quatro anos e isso mudou minha vida.”
O ciclista italiano revela que cresceu em um ambiente familiar conturbado, marcado por constantes discussões entre sua mãe, Nives, e seu pai, Franco. Encontrou refúgio na bicicleta, que se tornou sua válvula de escape.
“Primeiro o triciclo e depois a bicicleta foram minhas tábuas de salvação: para escapar dos gritos, eu corri e encontrei paz dando voltas e mais voltas no pátio.”
“Venci minha primeira corrida aos 7 anos. O segundo lugar foi conquistado no mês seguinte, na minha cidade natal, Cassano Magnago. Eu sempre vencia”, revela o italiano.
“A primeira coisa que entendi é que nasci para pedalar”
“A primeira coisa que entendi é que nasci para pedalar. A segunda foi que meus sucessos tiveram um efeito terapêutico em minha família. Quando meus pais estavam nas minhas corridas, eles ficavam felizes e não brigavam por dias.”
“Há quem comece a pedalar, porque se apaixona por uma linda bicicleta na vitrine; Eu porque, mesmo sendo muito pequeno, queria prolongar essa trégua indefinidamente.”
Operación Puerto: A Mancha na Carreira
Entretanto, após uma ascensão meteórica, já com vitória no Giro d’Italia, em 2006, a trajetória de Basso sofreu um baque, com sua implicação na Operación Puerto, uma investigação espanhola sobre doping sanguíneo em larga escala. O ciclista admitiu seu envolvimento.
“Em Madri, tirei duas bolsas de sangue que eu teria injetado antes do Tour de France, para ter glóbulos vermelhos mais frescos e ir mais rápido”.
“Em uma operação investigativa da polícia espanhola, eles encontraram as bolsas congeladas, as minhas e de outros. Ao associar o DNA aos bancos de dados da Federação, eles me identificaram” revela Basso.
“Reconheço minha culpa e estou envergonhado”
Apesar de nunca ter chegado a usar o sangue armazenado, Basso admitiu sua culpa. “Eu não tive tempo. Mas eu sei o que fiz, reconheço minha culpa e estou envergonhado. Mas há motivações mais profundas que não fiz.”
Após cumprir sua suspensão, o italiano conseguiu um retorno triunfal e conquistou o Giro d’Italia pela segunda vez em 2010.
O diagnóstico de câncer testicular
Em 2015, enquanto competia no Tour de France como gregário de Alberto Contador, Basso recebeu um diagnóstico de que mudaria sua vida.
“Em julho de 2015, eu estava competindo no Tour de France, naquele momento como domestique de Alberto Contador. Durante a etapa de Pau, sofri uma queda feia”.
“No hospital, uma tomografia computadorizada descobriu que eu tinha um tumor testicular avançado, que precisava de cirurgia imediata. Sem esse acidente, eu poderia ter descoberto tarde demais.”
“Deixo para os outros julgarem, para mim Lance Armstrong fez algo enorme”
O diagnóstico trouxe à tona lembranças dolorosas. “Naquele mesmo lugar, 11 anos antes, um amigo médico me ligou, para dizer que o câncer de pâncreas que minha mãe sofreu era terminal. Olhei para trás na minha vida, percebi que um capítulo estava se fechando.”
Durante sua recuperação, Basso refletiu sobre sua relação com Lance Armstrong, um dos nomes mais polêmicos da história do ciclismo.
“Lance para mim é o homem que (tendo sobrevivido a um tumor) enviou um médico para a Itália às suas próprias custas para tentar curar minha mãe. Deixo para outros julgarem suas mentiras e seu doping, para mim Lance Armstrong fez algo enorme”, finalizou Ivan Basso.
