Campeão do Giro d’Italia dá detalhes da dura vida no WorldTour “o pelotão agora é composto por monges”

O ex-ciclista profissional Tom Dumoulin, vencedor do Giro d’Italia 2017 e campeão mundial de contrarrelógio, foi o convidado do podcast holandês Cor Potcast. Durante a entrevista, Dumoulin compartilhou suas experiências nos Grand Tours, destacando as dificuldades mentais enfrentadas ao longo das três semanas de competição.

Ele também relembrou com carinho sua passagem pelo Tour Down Under e a forma como os ciclistas lidavam com o esporte no passado em comparação aos dias atuais.

“O pelotão agora é composto por monges”

Com o Tour Down Under 2025 finalizado, Dumoulin, que terminou a edição de 2016 na 4ª colocação geral, falou com entusiasmo sobre sua experiência na Austrália.

“Os dias consistiam em treinamento e massagens, mas depois podíamos ir à praia. À noite tomamos cerveja na cidade. Mas é claro que fomos dormir cedo”, disse Dumoulin com um sorriso.

O ex-campeão também comparou o comportamento dos ciclistas daquela época com os atletas da atualidade: “Depois de uma corrida, costumávamos beber bastante e, às vezes, ficávamos acordados até muito tarde”.

“Mas nos dias que antecederam a corrida, o foco estava completamente na competição. Então não se bebia álcool. Hoje em dia, você quase não vê isso; o pelotão agora é composto quase que exclusivamente por monges”.

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Dumoulin foi Campeão Mundial de Contrarrelógio em 2017

“Em cada subida, vocês estão enganando um ao outro”

Dumoulin destacou o enorme desafio mental de disputar um Grand Tour e como o cansaço acumulado ao longo das três semanas afeta os ciclistas. “Em um Grand Tour, você joga esse jogo com seus concorrentes por três semanas. Em cada subida, vocês estão enganando um ao outro. Alguns ciclistas são menos hábeis nesse jogo mental, mas outros são mestres nele”, afirmou.

Ele também revelou que aprendeu a lidar com essa dinâmica ao longo dos anos: “Bauke Mollema (atualmente na Lidl-Trek, aos 38 anos) me ensinou este jogo”.

A autoconfiança é essencial para suportar a exaustão das semanas finais das grandes voltas. “Nos Grand Tours, você fica exausto, especialmente nas últimas semanas, e aí você realmente precisa de muita autoconfiança. Você tem que se encorajar constantemente”.

“Mas mesmo quando as coisas não estavam indo bem, eu sempre dei o meu melhor. Isso foi gratificante, porque eu sabia que tinha atingido meu máximo. Foi difícil quando não consegui acompanhar, mas aprendi a aceitar isso”, explicou Dumoulin.

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Tom Dumoulin em um jogo mental com Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida)

“Eu gostava de sofrer, isso me dava uma ótima sensação”

Apesar das dificuldades, Dumoulin admitiu que o sofrimento fazia parte do que tornava o ciclismo especial para ele. “Eu gostava de sofrer, isso realmente me dava uma ótima sensação”, contou o ex-campeão mundial de contrarrelógio. “Nas difíceis etapas de montanha e nos contrarrelógios, às vezes era puro sofrimento, mas a sensação de satisfação era indescritível”.

“Às vezes sinto muita falta disso. Mas não sinto falta alguma da vida de ciclista profissional: as viagens constantes, o treinamento incessante e quase nunca estar em casa. Agora aproveito muito mais meu tempo”, complementou Dumoulin.

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Dumoulin conquistou 3 vitórias em etapas do Tour de France

“Muitas pessoas sonham em ser profissionais, mas o lado negativo costuma ser difícil”

Por mais que o ciclismo profissional possa parecer um sonho para muitos, Dumoulin destacou o lado solitário e desafiador do esporte. “Muitas pessoas sonham com uma vida profissional, mas o lado negativo costuma ser difícil. Às vezes, é muito difícil. Você dá tudo de si e treina durante meses. Quando você fica em uma montanha por quatro semanas, às vezes pode se sentir muito solitário”, revelou.

Ele também comentou sobre a busca incessante pela perfeição física, algo essencial para ter sucesso nas montanhas. “A busca por ser o mais leve possível, para ter um melhor desempenho nas montanhas, faz com que você esteja sempre cansado. Mas se você quer ganhar um Grand Tour, esse é o caminho que precisa seguir”, finalizou Dumoulin.

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