Ciclista 3x Campeão do Tour de France revela relação de amor e ódio com o esporte “sem o EPO eu teria vencido mais duas vezes”
Greg LeMond, aos 63 anos, continua tão refinado com suas palavras quanto era durante seus dias de glória no Tour de France nos anos 80 e início dos 90, onde venceu em três oportunidades a competição francesa (1986, 1989 e 1990).
Em uma entrevista ao site Cycling Weekly, ele revelou que ainda tem sonhos com a Grand Boucle, abordou o tema do doping e refletiu sobre como a epidemia de substâncias proibidas nos anos 90, afetou sua carreira.
“Tenho uma relação de amor e ódio com o ciclismo”
“Três ou quatro vezes por ano, ainda sonho em correr o Tour. Acordo e penso comigo mesmo: ‘O que estou pensando? Tenho 63 anos e o dobro do peso dos profissionais’”, brinca LeMond em entrevista ao Cycling Weekly.
“Não consigo imaginar nenhum outro esporte que tenha a mesma velocidade, intensidade e competitividade do ciclismo. Tenho uma relação de amor e ódio com o ciclismo por causa das drogas e da cultura de mente fechada, mas o que é mais emocionante do que correr o Tour de France? Estou tão feliz por ter encontrado o ciclismo.”
Primeiro ciclista com contrato de 1 milhão de dólares
LeMond foi convencido a se juntar à La Vie Claire em 1985, a equipe que vestia um dos designs de camisa mais icônicos do ciclismo e que era a casa de seu antigo companheiro de equipe Bernard Hinault.
A ambiciosa estrela em ascensão teria sua própria chance de vencer o Tour, mas primeiro ele tinha que ajudar Hinault a vencer seu quinto. O adoçante? LeMond se tornou o primeiro ciclista a assinar um contrato de um milhão de dólares.
Ele ajudou Hinault a vencer seu 5º Tour, enquanto se sentia confiante de que poderia ter vencido a corrida sozinho. “Eu fui muito leal como companheiro de equipe naquele Tour de 1985”, ele lembra. “Eu deveria ter sido mais egoísta e menos ingênuo”.
Hinault prometeu retribuir LeMond e ajudá-lo a vencer seu primeiro Tour em 1986, mas na 12ª etapa a vantagem do francês sobre o americano era de 05min 25seg. Notavelmente, e apesar de uma briga interna amarga, LeMond reverteu o déficit para vencer Hinault por mais de três minutos e conquistou seu 1º Tour de France.
“Sem o EPO eu teria vencido em 1991 e 1992”
Após superar um ferimento quase fatal a bala em 1987, Lemond voltou para conquistar o Tour de France em duas novas oportunidades, em 1989 e 1990. No entanto, ele não esconde suas frustrações com o que veio depois.
“Eu também sonhava em vencer cinco Tours, o que logicamente eu deveria ter feito. Acredito verdadeiramente que, sem o EPO, eu teria vencido em 1991 e 1992”, afirma LeMond.
A dificuldade de ter informações privilegiadas como comentarista
Sua história de superação foi única no ciclismo profissional masculino nos EUA, abrindo caminho para uma geração que viu Lance Armstrong dominar os holofotes. Contudo, para LeMond, que se tornou comentarista do esporte, lidar com esse legado foi um desafio.
“Eu simplesmente tive que aceitar aquela posição. Na verdade me deixou perplexo que a era Armstrong foi ainda pior que o final dos anos 90”, admite. LeMond também descreveu como foi difícil comentar o esporte durante esse período.
“Eu adorava, mas era difícil ser entusiasta por certas pessoas sobre as quais eu tinha informações privilegiadas. Foi doloroso”, finalizou Greg Lemond.
