Diretor do World Tour afirma que UAE e Red Bull Bora “esmagam o mercado” e alerta para “o fim de uma era”
Marc Madiot, uma das figuras mais marcantes do ciclismo mundial, encerra o ano de 2024 com reflexões profundas sobre a evolução do esporte.
Em entrevista ao jornal L’Équipe, o diretor da Groupama-FDJ abordou temas que têm ocupado sua atenção nos últimos tempos: a influência do dinheiro, os riscos crescentes no esporte e questões éticas relacionadas à hiper profissionalização que o esporte está passando recentemente.
UAE e Red Bull-BORA estão “esmagando o mercado”
Madiot tem sido uma voz ativa nas discussões sobre o impacto do aumento de investimentos milionários no ciclismo. Ele criticou abertamente equipes como a UAE Team Emirates e a Red Bull-BORA-hansgrohe, afirmando que elas estão “esmagando o mercado”.
Para Madiot, o crescente impacto de grandes investidores, como Red Bull e INEOS, está mudando a essência do ciclismo. Ele citou Mathieu van der Poel como exemplo dos “tempos de mudança”.
“O fim de uma era”
“Isto não é de todo uma crítica, mas vejo Van der Poel chegar a um Ciclocross com seu Lamborghini e voar para Besançon em um jato privado, por 50.000 euros por prova de Ciclocross”, ressalta Madiot.
“Bom para ele, mas o mundo do ciclismo está mudando. A Red Bull já está no futebol, na Fórmula 1 e nos barcos, e agora está aqui. Acho que veremos uma grande mudança em 2025 e 2026. O fim de uma era”, complementa o francês.
“Esses patrocinadores querem ganhar dinheiro”
“Na França, estamos em um modelo em que o patrocinador, se ele investir dez milhões, espera ganhar um pouco mais em retorno do investimento em imagem, esse é o modelo lógico”.
“Mas esses patrocinadores ou esses estados (Emirados Árabes, ed.) querem ganhar dinheiro como no futebol, enquanto estávamos mais em um modelo de equilíbrio”.
Ciclistas cada vez mais jovens no pelotão
Além disso, expressou preocupação com a tendência de recrutar ciclistas cada vez mais jovens, muitas vezes com base apenas em números e projeções.
“Estamos em uma era em que talentos são contratados com pouca vivência no esporte. Isso cria uma pressão enorme tanto para os ciclistas quanto para as equipes, alterando a dinâmica tradicional do ciclismo”, comentou o francês.
“Doping no passado hoje pode ser chamado de hiper profissionalização”
O francês também demonstrou preocupação com o que ele chama de “equilíbrio ético” no esporte. Para Madiot, a busca por inovação e ganhos marginais pode ultrapassar limites perigosos.
“Receio que, devido a esta transformação no ciclismo, já não pretendamos ganhos marginais. Há uma profissionalização excessiva e eu não gostaria que o que era doping no passado fosse hoje chamado de hiper profissionalização sem que percebêssemos”, alertou.
Madiot mencionou tecnologias e substâncias que, segundo ele, precisam ser monitoradas. “Já levantei o uso de monóxido de carbono com a UCI e, então, você também tem cetonas. Quem determinará os limites desta zona de progresso? A evolução é vertiginosa e podemos estar à beira de uma grande confusão. Eu apenas assisto isso e estou vigilante, finalizou Marc Madiot ao L’Équipe.”