Diretor do World Tour revela que equipe abdica de vitória pelos pontos UCI “Tadej Pogacar não nos interessa”
Matthew Hayman, ex-ciclista profissional e atual diretor esportivo da Team Jayco AlUla, revelou em entrevista ao site Cyclowired no Japão, que a equipe em algumas ocasiões, abdica da vitória para conquistar o maior número de pontos UCI.
Hayman destacou que os pontos UCI são essenciais para garantir a permanência da equipe no World Tour e também garantem sua estabilidade financeira. O australiano também abordou a incapacidade de impedir o domínio de Tadej Pogacar em corridas de alto nível.
O ataque de Pogacar: “Não nos interessa”
Nos 5 Monumentos deste ano, quatro foram vencidos com ataques individuais, destacando a Il Lombardia, onde Tadej Pogacar realizou um ataque devastador a 48 km da chegada, conquistando seu 4º título consecutivo.
Após a prova, Pogacar comentou que “tudo saiu conforme o planejado”, enquanto Remco Evenepoel admitiu: “Eu esperava os pontos em que ele deveria atacar”.
Questionado sobre a dificuldade de conter Pogacar, Hayman foi enfático: “Não nos interessa”. Ele explicou que o foco de sua equipe muitas vezes não está em vencer, mas na obtenção de pontos UCI, essenciais para a sobrevivência da Jayco AlUla (a melhor colocação da Jayco AlUla na Il Lombardia 2024, foi com Filippo Zana, 20º colocado, 50 pontos UCI).
O sistema de pontos UCI determina ação da equipe
Desde 2020, a UCI implementou um sistema que concede licenças World Tour para as 18 melhores equipes, com base no total de pontos acumulados ao longo de três anos. Essa regra influencia profundamente as táticas das equipes, especialmente as de menor orçamento, como a Jayco AlUla.
Hayman revelou que, em corridas como o GP de Montréal, as instruções para sua equipe priorizaram uma estratégia que acumulasse mais pontos em vez de lutar pela vitória.
“Havia uma fuga, com os ciclistas atacando um após o outro. Em vez de estreitar no grupo da frente, dei as instruções: “Deixem a UAE Team Emirates liderar o grupo e buscaremos resultados entre os 10 primeiros para vários ciclistas.
Ele explicou: “Se o vencedor recebe 500 pontos, mas conseguimos colocar ciclistas em segundo, quinto e nono lugares, o total será muito superior a 725 pontos.”
“É um sistema que está matando as corridas de estrada”, declarou ele, lamentando a dependência excessiva dos pontos UCI para garantir a sustentabilidade das equipes.
“Se Pogacar estivesse na Soudal, ele ainda venceria”
Ainda assim, Hayman reconhece que o domínio de Pogacar seria inevitável, mesmo em um cenário sem o sistema de rebaixamento e promoção. “Se Pogacar estivesse na Soudal Quick-Step ou na EF Education EasyPost, ele ainda venceria grandes corridas como os Grand Tours”, afirmou.
Ao encerrar a entrevista, Hayman reafirmou seu compromisso em construir uma equipe que honre a herança do GreenEdge, a primeira equipe australiana no World Tour, fundada em 2012.
“Embora seja uma batalha difícil, queremos continuar a construir uma equipe que herde o legado da GreenEdge”, concluiu ele com um sorriso.