Dois jovens ciclistas da Soudal Quick-Step abandonam o ciclismo “nem todos estão preparados para isso” afirma selecionador da equipe

A equipe de formação da Soudal-Quick Step sofreu duas baixas importantes nesta temporada, com o abandono de dois jovens talentos: o francês Gabriel Berg e o britânico Cormac Nisbet. Ambos, aos 18 anos, interromperam suas carreiras, após perceberem os sacrifícios e os desafios impostos pela vida de um ciclista de alto rendimento.

Em entrevista ao jornal esportivo francês L’Equipe , Berg falou sobre sua decisão: “Tive maturidade para parar de correr antes de ficar enojado”.

“Não fazer nada além de andar de bicicleta”

Tanto Berg quanto Nisbet sempre sonharam em alcançar o ciclismo profissional. Com a oportunidade de integrar a equipe de desenvolvimento da Soudal-Quick Step, um passo de realização desse sonho havia sido dado. No entanto, a dura realidade do esporte logo surgiu.

“Andar de bicicleta, andar de bicicleta e não fazer nada além de andar de bicicleta. Me senti preso a uma rotina”, desabafou Berg. Ele também destacou o impacto em sua vida social, que praticamente desapareceu: “Meu sonho era ser ciclista profissional. Mas fora da corrida, não via mais ninguém. Não tinha vida social.”

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Cormac Nisbet (esquerda) e Gabriel Berg (direita)

“Vi 4 quedas em 10 km, no mesmo dia um colega faleceu”

Além dos desafios emocionais, o medo também passou a ser um fator decisivo para Berg. Durante uma corrida na Bélgica, ele presenciou uma série de quedas que o assustaram profundamente.

“Vi quatro quedas num raio de 10 quilômetros. Fiquei com medo. No mesmo dia, soube que meu antigo colega de equipe, Thomas Bouquet, tinha falecido”, relatou.

A experiência de ver colegas de profissão se acidentarem, como André Drege no Tour da Áustria, aumentou ainda mais o recebimento: “Hoje foram eles, mas poderia ter sido eu”, complementa Gabriel Berg.

Cicatrizes físicas e emocionais

Gabriel Berg também passou por suas próprias quedas nesta temporada, acumulando não apenas cicatrizes, físicas, mas também emocionais. “Meu corpo está machucado e estou com cicatrizes para o resto da vida”, concluiu o jovem ciclista, justificando sua decisão de abandonar o esporte que tanto amava.

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Descobridor de Julian Alaphilippe e Filippo Ganna não se surpreende

Johan Molly, super olheiro da Soudal-Quick Step, também acompanhou de perto a despedida do jovem francês Gabriel Berg. Para Molly, a decisão de Berg não foi surpreendente. “Gabriel não disse nada de errado naquela entrevista. Ele contou como é.”

Segundo Molly, o caso de Berg é reflexo de uma busca implacável por novos talentos que tomaram conta do ciclismo, com as equipes ansiosamente para descobrir o próximo Tadej Pogacar ou Remco Evenepoel. “Os ciclistas estão sendo selecionados cada vez mais jovens”, afirma ele.

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Johan Molly

“Nem todos estão preparados para os sacrifícios”

“Trabalhar com equipes juniores e Sub-23 exige muito desses jovens. Nem todos estão preparados para isso”, explica. Ele enfatiza que a idade de 18 anos é crucial para muitos ciclistas, que enfrentam a necessidade de fazer cada vez mais sacrifícios, tanto pessoais quanto sociais:

“Você tem que desistir de muitas coisas. A vida social, os amigos, estudos, e até a possibilidade de ter um primeiro relacionamento”, afirma Johan Molly, que tem um histórico de sucesso na descoberta de grandes talentos do ciclismo. “Julian Alaphilippe, Enric Mas, Mads Pedersen, Filippo Ganna… eu descobri todos eles”, afirma o belga.

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Julian Alaphilippe e Johan Molly

Crítica aos empresários de jovens ciclistas

Molly é crítico em relação ao papel dos gestores que procuram lucrar rapidamente com esses jovens talentos. “Eles deixam os ciclistas malucos”. Molly revela que nunca viu tantos olheiros em corridas juvenis por toda a Europa, muitos representando agências de gestão de carreiras.

“Há rapazes de 16 anos que já têm um treinador, e esses empresários dizem a eles que podem ganhar 200 mil euros como juniores. Eu tenho que competir com isso como olheiro.”

“O empresário de Cormac Nisbet já não se importava com ele”

Ele ainda comenta um caso específico relacionado a Cormac Nisbet. “Quando Cormac anunciou sua aposentadoria, o agente dele imediatamente nos enviou um e-mail com três novos nomes de ciclistas para ocupar sua vaga. Ele já não se importava mais com o Cormac.”

Para Molly, esse comportamento é um exemplo claro de como muitos gestores não se preocupam com o bem-estar dos ciclistas a longo prazo. “Esses dirigentes querem que o ciclista se torne profissional o mais rápido possível. Depois de dois anos, estão focados em outros. Se ele não se tornar profissional, eles perdem o interesse”, finalizou Johan Molly.

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Cormac Nisbet
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