“Há João Almeida e Isaac Del Toro, a França terá que esperar mais para vencer o Tour”, lenda do Tour de France lamenta ausência de franceses na disputa pela Maillot Jaune
Em 1985, Bernard Hinault conquistou seu 5º título no Tour de France. Desde então, nenhum ciclista francês conseguiu repetir o feito. Quatro décadas se passaram, e o “Texugo” não esconde o incômodo com esse hiato.
“Dói, faz pensar. É uma pena que em todo esse tempo ninguém tenha me pedido conselhos. Eu teria disponibilizado minha experiência”, afirmou Hinault em entrevista à Gazzetta dello Sport.

“Há João Almeida e Isaac del Toro…a França terá que esperar”
Para o ex-campeão, a perspectiva de um novo francês disputando o topo do pódio ainda está distante. “Quarenta anos é muito tempo. E não vejo ninguém no horizonte pronto para igualar talentos como Pogacar, Vingegaard, Evenepoel. Há Almeida, Del Toro e um jovem esloveno que venceu o Giro Next Gen (Jakob Omrzel, ed.), mas acho que a França terá que esperar um pouco mais.”

Hinault também é direto ao comentar a nova geração de franceses. “A França tinha bons ciclistas, até campeões, mas não tinham aptidão para Grand Tours”.
“O que dói é que nenhum dos jovens jamais veio me pedir conselhos. Nem uma vez”, lamenta. “Eu teria algo a dizer. No mínimo, poderia ter compartilhado um pouco da minha experiência.”

“Um Top 10 já seria uma surpresa”
O cenário para 2025 não traz sinais de mudança. Nenhum francês confirmou ambições reais na disputa pela Maillot Jaune.
Ciclistas como Lenny Martínez (Bahrain Victorious), Guillaume Martin (Groupama FDJ) e Kévin Vauquelin (Arkéa B&B Hotels) são vistos mais como candidatos a vitórias em etapas de montanha do que como postulantes ao pódio. “Um Top 10 já seria uma surpresa”, reconhece Hinault.

“Será difícil vencer Pogacar. Tadej é fenomenal”
Hinault vê uma disputa concentrada entre dois nomes: Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard. No entanto, o francês é claro ao apontar um favorito: “Eles são os favoritos claros. Com base no que vimos no Dauphiné, acho que será difícil vencer o Pogacar. Tadej é fenomenal.”
A lenda francesa vai além e sugere que Pogacar pode almejar algo ainda mais ousado. “Pogacar poderia conseguir (vencer os três Grand Tours no mesmo ano). E eu não descartaria a possibilidade de ele tentar nos próximos anos. O calendário torna isso possível. Se eu estivesse correndo agora, eu tentaria – e saberia como me preparar para isso.”

“Se dependesse de mim, eu aboliria os computadores de bicicleta e os fones de ouvido”
Hinault também aproveitou a entrevista para comentar sobre segurança no pelotão, tema que tem ganhado relevância com o aumento de acidentes nos últimos anos. E, como de costume, não poupou críticas ao que vê como excessos da tecnologia atual.
“Não acho que a mudança das engrenagens seja o problema. Se dependesse de mim, eu aboliria os computadores de bicicleta e os fones de ouvido”, afirmou.
Segundo ele, o foco dos ciclistas está deslocado. “Os ciclistas sofrem acidentes hoje porque estão olhando para seus dados e não para a estrada”, argumenta, sem meias palavras.
