Treinador de Primoz Roglic dá detalhes do treinamento para o Giro “existe o risco de ele desmaiar, mas não temos escolha”
Mesmo aos 35 anos, Primoz Roglic não dá sinais de que está perto do fim de sua trajetória vencedora. Há pouco mais de um mês, ele superou Juan Ayuso, 13 anos mais jovem, na Volta a Catalunya e mostrou que ainda é um competidor de elite.
“E na Vuelta do ano passado (que Roglic venceu, ed.), Primoz atingiu a maior potência que já vi dele”, afirmou seu treinador, Marc Lamberts.
Contudo, Lamberts também reconhece que a idade é um fator inevitável: “Já faz alguns anos que venho pensando: talvez esta seja a última vitória dele. Isso tem que parar em algum momento, é a natureza. Será que a Volta a Catalunya será a última vitória dele em uma corrida por etapas? Pode muito bem ser”, confessa Lamberts ao jornal belga Het Nieuwsblad.
Otimismo para o Giro e olho no Tour
Apesar das dúvidas naturais, o treinador acredita que Roglic pode brigar pelo título no Giro d’Italia. “Se tudo correr bem, mesmo naquela traiçoeira etapa de cascalho e ele continuar na bike, estará na briga pelo pódio. E tem chances de vencer”, avalia o treinador referindo-se a 9ª etapa com chegada em Siena e diversos trechos de cascalhos no percurso.
“Essa não é a preparação ideal para o Tour”
No papel, Juan Ayuso volta a surgir como principal rival. “No Tour da Catalunha, eles já estavam empatados, inclusive nas subidas longas.”
Roglic estará na largada do Giro, marcada para esta sexta-feira na Albânia, mas essa decisão foi bastante debatida internamente. “Eu não era a favor da ideia”, admitiu Lamberts.
“Uma coisa era certa: Primoz queria muito fazer o Tour. Aí a questão era: faríamos da mesma forma que no ano passado, com treino em altitude e o Dauphiné, ou faríamos o Giro? Se Primoz tiver que correr a todo vapor por três semanas, essa não é a preparação ideal para o Tour.”
“Na verdade, ele corre o Giro pelo Tour”
Segundo Lamberts, a decisão final de correr o Giro partiu do próprio ciclista, influenciado por fatores pessoais.
“No fim, Primoz decidiu participar do Giro sozinho. O que influenciou: ele percebeu que não consegue treinar perfeitamente em casa, com dois filhos pequenos. Não consigo colocá-lo no nível dele se ele estiver em casa.”
A escolha de correr o Giro, no entanto, não se deve ao domínio de Tadej Pogacar ou ao reconhecimento da dificuldade de vencer o Tour. “Essa é a ideia da equipe. Mas não é assim que Primoz e eu pensamos”, destacou Lamberts.
“É verdade: Primoz não se importa muito em vencer o Giro pela segunda vez, a Vuelta pela quinta vez, ou a Paris-Nice ou o Tour da Catalunha novamente. Na verdade, ele corre o Giro pelo Tour. E eu apoio totalmente o sonho dele de tentar vencer o Tour de France.”
“O que Pogacar está pedalando que não é realista”
Lamberts não esconde que superar Pogacar é uma tarefa monumental. “De um ponto de vista puramente científico, se você ler o que Pogacar está pedalando, verá que não é realista”.
“Mas em um Grand Tour, tudo sempre pode acontecer. E eu ficaria incrivelmente feliz se Primoz chegasse a Paris ileso, pelo menos uma vez.”
“Existe o risco de ele desmaiar”
Para isso, o treinador admite ir além dos limites no processo de preparação. “Se Primoz estivesse satisfeito com um 4º lugar, eu teria uma tarefa muito fácil. Mas para Primoz, só a vitória conta”.
“Aí você tem que treinar tanto que chega ao limite. Você busca os limites, com o risco de forçá-lo além do limite em algum momento”.
“Como treinador, você vai tão longe que, na verdade, deixa de ser divertido. Existe o risco de ele desmaiar porque fomos longe demais. Primoz sabe disso. Mas não temos escolha se quisermos vencer”, concluiu Marc Lamberts.
