Vencedor de etapa do Tour de France critica exigências do ciclismo profissional “às vezes é opressor, é preciso estar sempre em forma”
O alemão Simon Geschke encerra sua carreira profissional ao final de 2024, após 16 anos dedicados ao ciclismo. Ao longo desse período, Geschke testemunhou uma transformação no esporte, o que, segundo ele, trouxe impactos profundos na cultura do pelotão.
Em uma entrevista à revista Rouleur, Geschke revelou sua contrariedade às exigências atuais que afetam o ambiente e a diversão no ciclismo profissional.
“Nos primeiros Training Camps bebíamos todas as noites”
“Tudo é super sério: todos estão sob pressão por contratos; as equipes estão sob pressão com o sistema de rebaixamento da UCI; os patrocinadores precisam ficar satisfeitos, a diversão não é mais a prioridade número um” afirmou Simon Geschke, de 38 anos.
O alemão continua com seu raciocínio, ao revelar como eram seus primeiros Training Camps. “Nos meus primeiros anos tomávamos algumas bebidas todas as noites. Não ficávamos super bêbados, mas ficávamos um pouco acordados e nos uníamos”.
“Agora você é forçado a ficar no quarto”
“Agora, em dezembro, treinamos super duro e talvez tomemos uma cerveja apenas uma noite”, afirma Geshke. “Todo mundo percebeu que se você quiser permanecer no alto nível, não pode mais sair. E, de qualquer forma, não há ninguém que saia com você, então você é forçado a ficar no quarto”, complementa o ainda ciclista da Cofidis.
“O treinamento mudou muito com os medidores de potência”
Simon Geschke, é conhecido por seu estilo de vida vegano. Durante muitos anos, ele foi o único vegano no grupo, o que sempre chamou a atenção de fãs e colegas.
Além disso, Geschke é um dos poucos ciclistas que ainda se lembra de como era treinado sem o auxílio de um medidor de potência, recurso que revolucionou a preparação no ciclismo.
Geschke recorda que adquiriu seu primeiro medidor de potência em 2009, um momento que, segundo ele, “mudou tudo” em seu treinamento. “Isso significou que eu poderia controlar o treinamento muito melhor, ver cada pedalada”, explica o ciclista.
“Às vezes é opressor acompanhar tudo”
“O treinamento definitivo mudou muito desde então. Há muitos intervalos intensos para fazer agora e, às vezes, é opressor acompanhar tudo”, afirma Geschke.
“Você não pode ter um mês fácil agora: precisa estar em forma de dezembro até o final da temporada”, comenta. “No início da minha carreira, as pessoas eram mais relaxadas e não era necessário estar 100% focado o ano todo”, complementou Simon Geschke.
A vitória no Tour de France em 2015
Ao longo de sua carreira, Geschke se destacou como um ciclista versátil e leal, essencial para o sucesso de seus colegas de equipe. Embora ele próprio não tenha conquistado muitas vitórias, desempenhou papéis importantes em equipes de ponta.
“Fiz parte do comboio de Marcel Kittel na Giant-Alpecin e Sunweb, e também ajudei Tom Dumoulin a vencer o Giro” (2017), recorda-se Geschke.
Apesar de ser mais conhecido como um fiel escudeiro, Geschke tem um motivo especial para se orgulhar: sua vitória na 17ª etapa do Tour de France de 2015, finalizada em Pra Loup, com a camisa da Giant-Alpecin.
“Vencer uma etapa no Tour é o que todos sonham. É a maior conquista para um ciclista profissional e foi o destaque da minha carreira”, finalizou o alemão, agora aposentado, com orgulho.